O autor:
"Nascido em 1811 no Rio de Janeiro, a sua infância, adolescência e juventude passaram-se na quadra mais ativa e efervescente da nossa vida política, que justamente então em verdade começava. Era menino de onze anos pela independência, e pelo 7 de abril entrava em plena juventude. Coincidiu-lhe a idade viril com a da pátria. Se houvesse em Magalhães maior personalidade, mais caráter, quero dizer qualidades morais salientes e ativas que lhe estimulassem o engenho, o momento e o meio teriam podido fazer dele um grande poeta. Não logrou ser senão um distinto poeta, cujo sentimento se ressente das circunstâncias em que se criou, cujo estro e inspiração revêem aquele meio e momento, mas sem o relevo e a distinção que foi de moda atribuir-lhe. Não se veja, aliás, nessa atribuição apenas a mesquinhez do gosto e do senso crítico do tempo ou um efeito das camaradagens literárias do autor, senão a conseqüência dos mesmos exaltados sentimentos nacionais do momento. Nem foi ele o único a quem esta circunstância aproveitou. Ao contrário, ela influiu preponderantemente na admiração ingênua e desavisado apreço que os nossos avós da primeira geração após a Independência tiveram por todos os seus poetas e literatos. A sua vaidade patriótica, então exagerada, desvanecia-se deles, como prova da nossa capacidade mental a opor às presunções e preconceitos portugueses da nossa inferioridade. E, ou fosse porque candidamente estivessem persuadidos do mérito dos escritores patrícios, ou por despique da opinião da metrópole, lho encareciam descomedidamente. Que, por Magalhães, não era a manifestação de uma parceria ou conventículo de literatos, mas o sentimento geral e sincero mostra-o o terem dele aproveitado ainda os mais medíocres. Tal sentimento é o inspirador da crítica nimiamente laudatória e até louvaminheira da época, e que se continuaria até nós em virtude de um hábito adquirido. É também esse sentimento, ininteligente certamente, mas ao cabo respeitável, que levaria os primeiros historiadores das nossas letras, que justamente então começam a aparecer, à enumeração fastidiosa e inútil de nomes e nomes, e a juntar-lhes os mais descabidos encômios." (VERÍSSIMO, José, 1911, p. 79)
A obra
"Em 1860, Domingos José Gonçalves de Magalhães escreveu um artigo polemizando com o livro História Geral do Brazil, de Varnhagen, nas abordagens que este fazia em relação aos índios. Magalhães entende que a história é um processo constituído de interesses conflitantes e pode variar de acordo com os interesses de quem interpreta ou expõe os fatos. Assim, sua proposta de reabilitar os indígenas perante a philosophia e a história passa pela crítica do discurso de Varnhagen, o que faz, ancorado na idéia do bom selvagem de Rosseau, ao longo das 62 páginas de Os indígenas do Brasil perante a história. Na conclusão, ele apresenta sua proposição para chamar os índios ao grêmio da civilização. Para ele, os índios eram
...dotados de grande instincto de observação e de imitação (...) são mui affeiçoados, e tendem sempre a ligar-se comnosco; e sem a perseguição a ferro e fogo que os afugenta dos centros civilisados, estariam logo todos fundidos na nossa população. (...) Pela religião, e pela musica de que são amantissimos; por meios brandos, e algumas dadivas de instrumentos agrarios, e de avellorios, facil-nos fôra attrahil-os, e aldeal-os. (Magalhães, 1860:65)
Essa atração significava muitos braços para a lavoura, mesmo que não fosse de imediato, pois os filhos dessa geração aldeada, sujeitos às leis e aos costumes dos brancos cumpririam essa tarefa, e os brancos civilizados estariam realizando o dever moral, religioso, social e patriótico de “civilizar os índios”, ou os Brasilios, como os denominava Magalhães. " (MOTA, 1997, p.157-158)
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